Há esperança! “O Senhor sustenta o universo” (Heb 1,3)

Para Todos os Membros da Família Hospitaleira de São João de Deus

Caríssimos Irmãos, Colaboradores, Voluntários, Amigos e pessoas assistidas nos Centros da Ordem: com mais força do que nunca, envio-vos as minhas saudações de Natal e os meus melhores votos de saúde e paz para todos, este ano com um forte apelo à Esperança, que se baseia na decisão de Deus de se fazer homem para dar vida a todos, a começar pelas pessoas mais frágeis e vulneráveis. Boas Festas para todos!

A Palavra de Deus da Solenidade da Natividade do Senhor é muito rica. Sublinho uma expressão extraída da Carta aos Hebreus, que se lê na Missa do Dia do Domingo de Natal: "Nestes dias, (…) falou-nos por seu Filho, … (que) tudo sustenta com a sua palavra poderosa" (Heb 1, 1;3). Esta é uma afirmação que nos enche de esperança no mundo em que vivemos hoje: provavelmente, é a única esperança, certamente a mais credível e a mais segura.

O grito de Natal deste ano, sobretudo para o mundo, é que HÁ ESPERANÇA, apesar de tudo o que vemos e estamos a viver! Não é o momento de insistir e voltar a relatar o sofrimento e os conflitos e guerras cada vez mais numerosos que nos assolam e causam tanto sofrimento e tantas vítimas. Eles são quase sempre fruto do egoísmo humano, da injusta ambição de poder e de riqueza. Resultam da autoproclamação de alguns não só como "senhores dos outros", mas também dos recursos da Terra. É o desrespeito pelos outros para atingir os seus fins espúrios e injustos, sobretudo quando se procura alcançá-los pela força... Quantas vítimas e quanto sofrimento! Nos últimos anos e nestes últimos meses, temos visto esse fenómeno crescer constantemente. Não aprendemos com o passado, apesar de conhecermos as lições que a História nos ensina. Continuamos a repetir os mesmos erros na era digital, da inovação e do conhecimento que supostamente nunca havíamos conhecido. Neste ambiente, é difícil falar de esperança, e é-o certamente para aqueles que estão mais diretamente envolvidos em todas essas situações.

Mas, apesar de tudo, há esperança. Falar de Natal é falar de esperança. Não se trata de pactos assinados entre os homens, que são facilmente violados pelas nossas ambições. Trata-se da grande aliança que Deus decidiu estabelecer. É a aliança mais vantajosa, porque é Ele quem garante que, aconteça o que acontecer, seja o que for, sustentará o universo e os seres humanos que nele habitam. Fá-lo encarnando-Se, fazendo-Se homem num Menino, Jesus, e nascendo numa manjedoura, manifestando assim a sua decisão de se tornar pobre com os pobres, que são os seus filhos prediletos.

São gestos e figuras muito simples e frágeis face a poderes e ambições destruidores, como os que Jesus encontrou no seu tempo. Mas esta é a Palavra e o compromisso mais sólido e poderoso, que nunca será violado, nunca acabará e será permanente até que triunfem o amor, o perdão e a reconciliação, a justiça e a verdadeira liberdade.

Com o nascimento do Menino em Belém chega até nós a única e verdadeira esperança para o mundo e para todos os seus habitantes. Por isso, o Natal é tempo de celebração, tempo de alegria e de festa, apesar do que está a acontecer e estamos a viver no mundo. É isso para todos, também para os doentes e as pessoas que vivem em solidão. A vinda de Jesus é um cântico de esperança para todos. Ninguém é esquecido.

Também é verdade que no mundo de hoje aquilo que destrói faz mais barulho, mas devemos também reconhecer os muitos gestos, sinais e ações que já nos anunciam a chegada desta esperança, que nos antecipam ou recordam a permanência do Natal, para além de um tempo que por vezes quer ser roubado pelos novos vendilhões dos novos templos do negócio e do engano: são os gestos de perdão e de verdadeiro amor de uma mãe e de um pai pelos seus filhos, a decisão de muitos jovens de irem para lugares longínquos ajudar pessoas em situação de pobreza, muitas pessoas que ajudam silenciosamente os outros, com pequenos gestos ou, por vezes, com grandes gestos. Tantos missionários, religiosos, sacerdotes e leigos que trabalham como formiguinhas pela paz, pela educação, pela saúde e prestando assistência aos necessitados e aos pobres.... 

O mesmo se pode dizer dos muitos gestos de hospitalidade que os Irmãos, Colaboradores e Voluntários da Ordem realizam todos os dias em todas as partes do mundo, cuidando, curando, acompanhando e dando o melhor de si mesmos. Quantos exemplos poderíamos apresentar! Recordo mais uma vez as nossas Casas que se encontram em lugares próximos ou no meio de conflitos, chegando mesmo a pôr em risco a própria vida. Ali e em todos os gestos que realizam e renovam o amor de Deus, ali é sempre Natal. E ali, a partir da simplicidade, grita-se com firmeza que, apesar de tudo, HÁ ESPERANÇA PARA O NOSSO MUNDO! 

Em meu nome pessoal e de todos os Irmãos e Colaboradores da Cúria Geral, desejo a toda a Família de S. João de Deus e a todas as pessoas assistidas nos nossos Centros e às suas famílias: Feliz Natal e um Próspero Ano Novo de 2024! Será um ano em que celebraremos o Capítulo Geral, pelo que peço a todos que, desde o início do novo ano, tenham esta intenção nas suas orações.

A todos os Irmãos e Colaboradores que durante estes dias estarão ao serviço das pessoas assistidas nos nossos Centros, especialmente no Dia de Natal, exprimo o meu sincero agradecimento e apreço. Nesses dias, sereis o rosto visível da Hospitalidade de São João de Deus e o rosto da Esperança firme e segura que o nascimento do Filho de Deus traz ao nosso mundo.

Ir. Jesús Etayo

Superior Geral