Era uma noite gelada de janeiro de 2007. O caminho em frente da nossa casa estava coberto de neve. Faltavam alguns dias para a minha entrada na Ordem dos Irmãos de S. João de Deus e, como de costume, dormia com as janelas ligeiramente abertas. Inesperadamente, em plena noite, acordei e ouvi uma voz débil, a implorar: "Maria Santíssima, socorro! Ninguém me ajuda!?" Levantei-me e olhei pela janela. Na penumbra da noite fracamente iluminada por um poste de luz reconheci a sombra de uma pessoa alquebrada na neve que continuava a repetir o seu enfraquecido pedido de socorro.

Desci, abri a porta e chamei pela sombra. Era uma senhora idosa, com evidentes sinais de se encontrar num estado mental confuso. Só tinha o pijama vestido e caminhava descalça na neve. Convidei-a a entrar em minha casa, preparei um chá quente e cobri-a com um cobertor quente. Lentamente, ela recuperou a serenidade. Mas compreendi imediatamente que sofria de demência. Após uma relutância inicial, a senhora revelou-me o seu nome e deu-me o endereço da sua casa. Mas a casa que me indicou tinha sido demolida há anos.

Na lista telefónica, não encontrei vestígios do seu nome. Então, vi-me obrigado a chamar a polícia que, depois de algumas tentativas, conseguiu identificar a sua filha. Pouco tempo depois, a filha apareceu para recuperar a sua mãe idosa, que tinha saído de casa por uma janela e vagueado várias horas no frio da noite. Ao despedir-se, ouvi a senhora dizer para a sua filha, enquanto saía de casa: "Que noite linda! Talvez seja o caso de retribuir e convidar este jovem a vir a nossa casa".