O Fundador, S. João de Deus
João Cidade nasceu em
Montemor-o-Novo (Évora, Portugal), em 1495. Com oito anos de idade, juntamente
com um clérigo que pernoitou em sua casa, foi para a Espanha e fixou-se em
Oropesa (Toledo) ao serviço da família de Francisco Mayoral.
Foi nesta localidade que decorreu
a maior parte da sua vida. A família Mayoral dedicava-se à criação de gado. Foi
pastor durante quase vinte anos. Todos apreciavam o seu trabalho. Durante esse
tempo, segundo se julga, foi amadurecendo o verdadeiro sentido da sua vida,
passando pelas vicissitudes próprias da adolescência, juventude e maturidade.
Por duas vezes saiu de Oropesa e
ambas elas para participar, como soldado, na guerra. Em 1523 deslocou-se até
junto da fronteira com a França, em Fuenterrabía. Esta experiência, porém, não
correu muito bem. Regressou a Oropesa, vencido. Em 1532 foi até Viena (Áustria)
combater contra os Turcos. E não voltaria mais a Oropesa.
Ao regressar de Viena, de barco,
entrou em Espanha pela Galiza, visitou o santuário de S. Tiago de Compostela e
dirigiu-se à sua terra natal, onde porém não encontrou quase ninguém conhecido.
Sentiu então fortemente o chamamento a seguir Jesus Cristo, dedicando-se aos
pobres e aos doentes. Ao partir de Montemor-o-Novo, fez um longo percurso de
busca daquilo que o Senhor esperava dele: Sevilha, Ceuta, Gibraltar e,
finalmente, Granada, onde se estabeleceu como livreiro. Vendia livros de
cavalaria, mas também de conteúdo e carácter religioso.
No ano 1539, escutando um sermão de João de Ávila no eremitério
dos Mártires, sentiu-se profundamente transformado: atravessou uma grande crise
de fé, saiu do eremitério aos gritos, rebolando-se no chão, e destruiu a sua
livraria… Este comportamento repetiu-se durante vários dias, de tal forma que
se julgou tivesse enlouquecido e foi internado no Hospital Real de Granada.
Após alguns meses estava completamente sereno, harmonizado e disposto a seguir
o Senhor, dedicando-se aos outros.
Escolheu como guia espiritual S.
João de Ávila, foi em peregrinação ao Santuário da Virgem de Guadalupe e, no
regresso, passou por Baeza, onde permaneceu com o seu Mestre durante algum
tempo, indo depois novamente para Granada, onde iniciou a sua actividade de
ajuda aos pobres doentes e necessitados.
Começou do nada. Na cidade, todos
pensavam que se tratava de uma nova forma de loucura. Mas, a pouco e pouco,
compreenderam a sua verdadeira sensatez. Trabalhava, pedia esmolas, recolhia os
pobres, dedicava-se a eles… De início, sozinho; depois, progressivamente,
foram-se unindo a ele outras pessoas, voluntários e benfeitores. Era muito
original a maneira como pedia esmola, utilizando a expressão: “Irmãos fazei o
bem a vós mesmos”.
Chegou a fundar o seu primeiro
hospital, que chamava “a casa de Deus”, e onde eram acolhidas todas as pessoas
sem distinção. Com a colaboração de alguns companheiros que se juntaram a ele,
organizou a assistência conforme considerava que os seus pobres mereciam. Foi o
Arcebispo de Granada quem lhe mudou o nome de João Cidade para João de Deus.
Trabalhou muito em favor das prostitutas, procurando reconstruir a sua
existência e ajudando-as a integrar-se na sociedade.
Faleceu no ano de 1550, com grande fama de santidade.
João Cidade foi beatificado em 21 de Setembro de 1630 por Urban VIII e
canonizado em 16 de Outubro de 1690 por Alexandre VIII.
Em 1886 Leão XIII proclamou-o Patrono Celestial dos hospitais e dos doentes
e em 1930 Pio XI elegeu-o Patrono dos enfermeiros e das suas associações.